As cidades invisíveis
VAI MINHA TENTATIVA, À LA MARCO POLO DE ITALO CALVINO, DE LEMBRAR AOS CANDIDATOS A PREFEITO DESTE ANO DA EXISTÊNCIA DAS CIDADES ONDE ELES PRETENDEM SE ELEGER
Vai a minha tentativa, à la Marco Polo de Italo Calvino, de lembrar aos candidatos a prefeito deste ano da existência das cidades onde eles pretendem se eleger: numa delas, não é permitido andar sem quatro rodas. Noutra, as ruas se transformam em rios quando chove. Numa terceira, é preciso cavar pela própria água rumo ao abismo.
Em "As cidades invisíveis", Calvino registra a missão designada por Kublai Khan ao veneziano Marco Polo: visitar e apresentar-lhe em detalhes seu império, que, de tão vasto, o conquistador não conseguiria conhecer sozinho. Ao contrário dos principais candidatos a prefeito deste ano, pelo menos o imperador mongol se interessa em saber como vão suas cidades.
Talvez seja cedo para que elas enfim tomem o centro do debate das municipais deste ano. Antes é preciso fechar as coligações, definir o tempo de propaganda na TV, estudar os pontos fracos dos adversários, preparar o candidato para o debate. Mas será que no meio de tudo isso a cidade tem alguma chance de virar o tema mais importante da eleição?
Se o país não foi o assunto principal da última disputa presidencial, por que um município seria? Do jeito que estão as capitais brasileiras, a impressão é de que a cidade nunca esteve no centro do debate eleitoral. A culpa dos problemas será sempre do prefeito, afinal foi ele que topou a encrenca. Mas de que adianta arrumar um responsável se ele não vai resolver?
Mesmo as cidades planejadas, como Brasília ou Goiânia, já saíram do papel erradas. E o que dizer da maior cidade do país? É o que me pergunto sempre que vejo uma ambulância se esgoelando para atravessar a Avenida Paulista. Nossos problemas são conceituais e, portanto, infelizmente não serão resolvidos de uma eleição para outra.
Isso quer dizer que você não deve votar em outubro? Não, cumpra o dever cívico, acredite se puder, mas as coisas não vão melhorar a partir de 2013. Nem em 2017, provavelmente. A boa notícia é que a política partidária nacional vai se aproximando de um ponto de saturação a partir do qual implode ou explode. Talvez então sobre espaço para contemplar a cidade.
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